CRÔNICAS DO AMANHÃ

CULTURA DO CANCELAMENTO

O papel das redes sociais e o efeito manada

 

Nos últimos anos, uma tendência em desenvolvimento tem se tornado cada vez mais proeminente nas redes sociais e na sociedade é a cultura do cancelamento. Surgindo como resposta a comportamentos considerados ofensivos e prejudiciais, essa prática tem gerado exaltados debates em relação aos seus efeitos e limites. No entendimento do sociólogo Manuel Castells (2013), a comunicação socializada desempenha um papel central na produção de significado na sociedade. O constante avanço tecnológico tem permitido uma expansão significativa do alcance das redes digitais em todas as esferas da vida social. Neste texto, abordamos a cultura do cancelamento, explorando suas possíveis consequências e dimensões, enquanto refletimos sobre o seu impacto na liberdade de expressão e na promoção de um diálogo construtivo. A cultura do cancelamento tornou-se conhecida como uma prática de julgamento virtual, na qual grupos de pessoas se reúnem nas redes sociais para criticar publicamente indivíduos que tenham expressado opiniões ou agido de maneira contrária ao que é considerado politicamente aceitável.

A pessoa alvo é exposta a uma grande quantidade de reprovação e condenação, muitas vezes resultando em impactos negativos em sua vida pessoal e profissional. A cultura do cancelamento se desenvolveu no contexto das redes sociais, onde indivíduos usam sua influência e poder para "cancelar" ou rejeitar publicamente figuras públicas, empresas ou mesmo pessoas comuns, em resposta a declarações ou comportamentos considerados ofensivos, problemáticos ou inaceitáveis. Essa prática tem sido impulsionada pela facilidade de disseminação de informações, pela amplificação de vozes individuais e pela rápida mobilização das massas. A internet proporciona um espaço amplo para que todos possam expressar suas opiniões e pontos de vista, inclusive de forma anônima, sobre diversos assuntos, eventos ou indivíduos. No entanto, quando se trata da cultura do cancelamento, surge uma preocupante relação com esse direito, uma vez que a internet pode ser vista como um ambiente propício para manifestações intolerantes e difamatórias.

De acordo com o Ministro do STF Alexandre de Moraes (2006) A liberdade de expressão constitui um dos fundamentos primordiais de uma sociedade democrática e se caracteriza como todo tipo de informação, indiferentes ou favoráveis, mas também aquelas que possam causar transtornos, resistência, inquietar pessoas, pois a democracia somente existe a partir da consagração do pluralismo de ideia e pensamento, da tolerância de opiniões e do espírito aberto ao diálogo. (BRAGHINI, 2023). Uma das principais consequências dessa cultura é o impacto negativo na vida pessoal e profissional das pessoas canceladas. Muitas vezes, elas enfrentam ataques virtuais, ameaças, perda de emprego, boicotes e danos à reputação. Essas repercussões podem levar a sérios problemas de saúde mental, incluindo ansiedade, depressão e até mesmo suicídio. O cancelamento público pode se tornar uma experiência traumática para os indivíduos envolvidos. Segundo Freitas (2017, p. 157), no decorrer dos acontecimentos de um linchamento virtual, as consequências podem ser "ostracismo social, demissão, depressão, dentre outras". Além disso, a cultura do cancelamento muitas vezes cria um ambiente de medo e censura, onde as pessoas se sentem  intimidadas a expressar suas opiniões livremente, por medo de serem alvo de um linchamento virtual.

A prática do linchamento, de acordo com Carvalho et al. (2018), se configura como forma de justiça social empregada quando os indivíduos acreditam que algum elemento da estrutura está em desacordo com a ordem moral convencionada. No âmbito de uma sociedade que tem suas relações cada vez mais mediadas pelas redes sociais, os atos de violência dos linchamentos são transferidos para a tela dos dispositivos comunicacionais. Esse clima de autocensura pode limitar a liberdade de expressão e impedir o desenvolvimento de um diálogo aberto e construtivo, tão necessário para a sociedade. Ao cancelar alguém de forma definitiva, sem permitir a possibilidade de reconhecimento do erro e mudança de comportamento, perdemos a oportunidade de promover uma cultura de reconciliação e evolução. O cancelamento tende a rotular pessoas como "forçadamente ruins", em vez de oferecer oportunidades para o diálogo e o viés de mudança. Um aspecto significativo da cultura do cancelamento nas redes sociais é o fenômeno do efeito manada. Nas plataformas digitais, o efeito  manada  ocorre  quando  um grupo de pessoas rapidamente adere a uma opinião ou ação em resposta a um evento, geralmente um caso de cancelamento. Assim, a influência social e a pressão dos pares desempenham um papel fundamental na propagação e amplificação do cancelamento. Pensando de forma social, se faz necessário a abordagem desta cultura em nossas escolas, com crianças e adolescentes.

Ao ensinar crianças e adolescentes sobre a cultura do cancelamento, é importante abordar o impacto do efeito manada. Logo, encorajá-los a serem críticos  em relação às informações que encontram nas redes sociais, incentivando-os a examinar os fatos e considerar diferentes perspectivas, refletindo sobre as consequências de suas ações virtuais. Além disso, é fundamental promover a empatia e o respeito pelas diferenças. Nesse sentido, deve-se ensinar os jovens a valorizar a diversidade de opiniões, a ouvir ativamente e a dialogar de maneira construtiv. Isso pode ajudar a contrapor a cultura do cancelamento. Ao incentivar um ambiente de respeito mútuo, estamos capacitando crianças e adolescentes a serem agentes de mudança positiva nas redes sociais, em vez de participarem de “linchamentos” virtuais. Cabe ressaltar que a abordagem do tema deve possuir um encantamento a  fim  de  instigar o aprendiz a engajar-se no assunto. Uma verdadeira ferramenta neste processo de aprendizagem é a utilização de "Metodologias Ativas", em que o professor(a) poderá escolher a abordagem que seja simbiótica ao perfil da turma, com objetivo de aprimorar a responsabilidade digital de cada sujeito.

Caro leitor, você sabe o que é Metodologia Ativa? Metodologia Ativa é uma abordagem pedagógica que possui como eixo central o protagonismo do aprendiz diante do seu próprio processo de aprendizagem. Neste modelo de metodologia o estudante tem papel ativo, são partícipes de atividades práticas, discussões, e vivências e resolução de problemas, assumindo responsabilidade no desenvolvimento de suas habilidades cognitivas e socioemocionais. A Metodologia Ativa possui diversas abordagens que estimulam no sujeito a criatividade, autonomia e pensamento crítico-reflexivo. Dentre as abordagens é possível elencar abordagens e suas respectivas características na explanação da temática supracitada em sala de aula. Apresentamos algumas delas:

 

·  Design Thinking - é uma abordagem que almeja a resolução de problemas e o desenvolvimento de soluções inovadoras. Em sala de aula, o docente após uma roda de  conversa e explanação com o grande grupo sobre a cultura do cancelamento poderá dividi-lo em pequenos grupos e estimular a criação de folders, redes de apoio e de informação sobre o tema.

 

·  Role Play e RolePlay Game  - abordagem que utiliza como recurso do tema gerador os jogos, a ludicidade e interpretação de papéis. Em sala, o docente pode propor ao grande grupo levantamento de um sub tema polêmico e pedir que o próprio grupo crie a situação. Com isto definido é possível dividir a turma em equipes e iniciar então um processo de vivenciar aquela situação  por meio  da interpretação de papéis, o cancelado e canceladores, e conforme a situação ganha forma, faça assim, a inversão de papéis no grupo.

 

·  Sala de Aula Invertida - é uma abordagem que possui o aprendiz como centro do processo de conhecimento. Nesta abordagem o docente poderá disponibilizar um material sobre a Cultura do Cancelamento anteriormente a sua aula, e em sala os aprendizes possuem espaço para debater a temática, criando suas concepções, e aprimorando seu conhecimento sobre. As metodologias ativas desempenham papel significativo no combate à cultura do cancelamento, pois promovem uma abordagem mais inclusiva, participativa e colaborativa na educação e sociedade. Entretanto, isoladamente esta metodologia não é uma solução completa para esse desafio, todavia é possível ressaltar que é uma abordagem promissora para enfrentar o papel das redes sociais e o efeito manada da cultura do cancelamento.


Milene Tavares 

Beatriz Aparecida Amorim

Professoras no município de Brusque


CRIMES VIRTUAIS: os perigos de um ambiente com crescente número de usuários

   

O século XXI tem sido marcado por mudanças tecnológicas que levaram a um aumento constante de pessoas que utilizam a internet em seu cotidiano. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no final de 2021, 90% de domicílios no Brasil já possuíam acesso à internet, ou seja 65,6 milhões de residências, o que representa um aumento de 5,8 milhões de domicílios em relação ao levantamento realizado em 2019 (CASA CIVIL, 2022). Seja para jogar, ver vídeos, ouvir músicas, ficar nas redes sociais, ou mesmo realizar negócios, o ambiente virtual é cada vez mais real para as pessoas, assim como os perigos que residem nele. A internet trouxe muitas vantagens para as pessoas que passaram a fazer compras, realizar transações bancárias, estudar e conversar por vídeo chamadas sem precisar sair de casa. Todavia, essa comodidade veio acompanhada de muitas ameaças, haja vista a presença de pessoas mal-intencionadas que usam dos espaços virtuais para aplicar golpes e se beneficiar com isso. Para conseguir se defender das ameaças, é preciso conhecê-las. A seguir, destacam-se os golpes virtuais mais comuns:

 

- Phishing: Existem inúmeras plataformas piratas nos sites que se propõem a exibir filmes, músicas, jogos de futebol e eventos ao vivo. Essas plataformas estão repletas de anúncios que ficam aparecendo constantemente e que ao clicados levam a outros endereços. Esses espaços oferecem recompensas, produtos, promoções, mas para participar solicitam dados pessoais do usuário. De acordo com Manzzi (2022) esse tipo de ameaça é chamado Phishing e é usado para obter informações sigilosas e/ou dados bancários da vítima.

 

- Calúnia, Injúria, Difamação: Há casos de usuários e grupos que usam a internet e principalmente as redes sociais para propagar informações enganosas ou distorcidas a respeito de indivíduos, instituições ou fatos. Desde 2022, o termo “Fake News” tem ganhado destaque nas mídias. De acordo com Pinheiro (2021) essas notícias propagam informações baseadas em valores, os quais muitas vezes distorcem a informação, promovendo assim danos à imagem de pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas. Para ajudar a combater as informações falsas, foi criado o site boatos.org, o qual verifica a veracidade das notícias postadas e denuncia as que possuem conteúdos enganosos.

 

- Vazamento de Imagens: a divulgação de fotos sem autorização, mesmo aquelas enviadas por redes sociais como Facebook, Instagram, Whatsapp também é configurado como crime. Um dos casos mais famosos acerca deste crime foi o ocorrido com a atriz Carolina Dieckmann, que em 2011 sofreu um ataque hacker em seu computador pessoal e teve vazado 36 fotos intimas na internet. O caso ganhou notoriedade. “Diante do primeiro escândalo do gênero no país, não tardou para que o caso ganhasse os olhos do público e da justiça. Em menos de um ano após o caso, a lei N° 12.737/2012 foi apelidada de Lei Caroline Dieckmann e sancionada no dia 30 de novembro de 2012” (DEFENSORIA PÚBLICA, 2022). Mais de 10 anos após o ocorrido, ainda é comum ver notícias de pessoas que tiveram fotos vasadas e por conta disso é preciso ter muito cuidado ao enviar fotos para outras pessoas.

 

 

- Plágio: Esse crime acontece quando alguém se apropria indevidamente da ideia de outra pessoa e não menciona, dando a entender que foi ela quem escreveu ou falou aquilo. Pode acontecer na elaboração de trabalhos acadêmicos. Manso (1987) explica que o termo vem do latim “Plagium”, que faz referência a uma lei romana que combatia o crime do “furto”.

 

Durante muito tempo, os crimes virtuais aconteciam na internet e eram difíceis de serem combatidos. Isso porque não havia uma legislação específica para lidar com isso. Depois de muita discussão, através da criação da Lei 13.709/2018 foi criado a Lei Geral de Proteção de Dados – doravante chamada de LGPD. Ela entrou em vigor a partir de 18 de setembro de 2020 e define o que são os dados pessoais e especifica que os dados só podem ser divulgados com expressa autorização do titular (BRASIL, 2022).

A LGPD serve também para as empresas que tem acesso as informações de funcionários e clientes, sendo que sua autorização só pode acontecer se autorizado por eles. A sugestão deixada para trabalhar os crimes virtuais em sala de aula é o PBL – Aprendizagem Baseada em Problemas. Por meio de situações hipotéticas envolvendo a prática de crimes virtuais, será orientado aos alunos estudarem a situação para definirem objetivos. O educador atuará como facilitador para ajudar os alunos a atingirem os objetivos propostos.

 

                                                               Giovani Bretzke  

Administrador no município de Brusque

Thalles Luz de Aguiar

Programador no municipio de Brusque


O AMANTE E A PUTA

 

 

Na vastidão do mundo virtual,

Onde desejos se entrelaçam em redes,

E fantasias se revelam em pixels,

Surge um tema que desperta olhares sedentos.

 

A pornografia, Arte polêmica,

Exploração dos desejos mais íntimos,

Um espelho distorcido da paixão humana,

Onde corpos entrelaçados se tornam mitos.

 

Em telas brilhantes, cenas se desdobram,

Corpos nus dançam em sensuais coreografias,

Um espetáculo de volúpia e prazer,

Que cativa mentes e corações em fantasias.

 

Mas além das imagens, há histórias por trás,

De seres humanos em busca de conexão,

Num mundo onde a solidão pode esmagar,

Encontram alívio nas vias da perdição.

 

Porém, cuidado, ó navegante audaz,

Pois nesse oceano há marés perigosas,

A exploração, a violência, o consentimento ausente,

São sombras que pairam sobre essas prosas.

 

Lembremos que por trás das fantasias virtuais,

Existem almas que buscam amor e aceitação,

Respeitemos os limites, o consentimento,

E ofereçamos aos outros compaixão.

 

A pornografia, um tema controverso,

Que desperta curiosidades e anseios,

Mas que também clama por respeito e consciência,

Numa sociedade que busca amparo em seus devaneios.

 

II

                                                                                                                  

No crepúsculo da cidade agitada,

Uma figura singular se destaca, encantada.

A puta é a dona da sedução,

Envolta em mistério e pura emoção.

 

Seu olhar, um convite à aventura,

Desperta desejos, acende a loucura.

Ela caminha pelas ruas sombrias,

Em busca de histórias, de noites vazias.

 

Sua alma, um labirinto de histórias ocultas,

Segredos compartilhados em noites tumultuas.

Cada encontro é uma dança proibida,

Onde almas perdidas encontram guarida.

 

Na pele, marcas de batalhas travadas,

Mas também de amores desvendados.

Pois por trás da puta,

Há sonhos e esperanças que o mundo difama.

 

Ela conhece o lado obscuro da paixão,

Desvenda fantasias, liberta a repressão.

Mas além do véu de luxúria e desejo,

Há uma mulher em busca de seu próprio ensejo.

 

Não a julgue pelo que ela escolheu ser,

Pois em cada coração há um segredo a esconder.

A puta, nessa estrada incerta,

Busca o amor e a redenção, a sua descoberta.

 

Quebrando tabus, desafiando convenções,

Ela segue em frente, com suas emoções.

A puta, um ser de luz,

Que merece respeito e compreensão, sem disputa.

 

Então, olhe além da fachada que ela apresenta,

Enxergue a humanidade que dentro dela esquenta.

E na poesia da vida, que se desdobra em cada esquina,

Respeite essa alma genuína e não a xingue de filha da puta.

.

III

 

Entre lençóis de paixão e desejos,

Surge a figura do amante sedento,

Um ser que busca nos braços alheios,

O fogo que acalenta seu tormento.

 

No escuro das noites clandestinas,

O amante encontra a sua morada,

Nos corpos que se entregam, alquimia,

Em suspiros, segredos, madrugada.

 

Amante é a chama que arde intensa,

No encontro proibido das peles,

Um segredo guardado na consciência,

Em beijos, carícias, doces deleites.

 

Mas o amante, eterno insatisfeito,

Nunca terá o amor por completo,

Pois sua sina é viver na sombra,

Entre o êxtase e o vazio, em segredo.

 

Oh, amante, peregrino dos afetos,

Deixa tua marca nas noites em brasa,

Encontrarás consolo em outros leitos,

Mas o verdadeiro amor, sempre em casa.

 

IV

 

No jardim dos sentimentos floresce o amor,

Um suave encanto que envolve o coração.

Como um sopro divino, ele traz calor,

Em cada toque, um doce afago de paixão.

 

Nas linhas do destino, ele se entrelaça,

Criando laços fortes que nunca se desfazem.

É a melodia suave que a alma abraça,

E nas asas do tempo, os sonhos se refazem.

 

O amor é um poema que se escreve a dois,

Com versos entrelaçados de cumplicidade.

É um abrigo seguro em dias de aversos,

Uma chama que arde com ardente intensidade.

 

Ele transborda nas risadas compartilhadas,

E acalma a tormenta nos momentos de dor.

É uma dança suave, nas mãos entrelaçadas,

Uma sinfonia perfeita que ecoa no amor.

 

Encontramos a nossa essência,

A verdadeira razão para sermos quem somos.

É uma força que ultrapassa a existência,

Um laço eterno que transcende todos os anos.

 

Que o amor seja a bússola dos nossos dias,

Guiando-nos por caminhos de felicidade.

Que ele brilhe sempre em todas as alegrias,

E seja nossa maior fortaleza na adversidade.

 

Que o amor seja a luz que ilumina o caminho,

E que nunca falte em nossos corações.

Que seja eterno como o sol que brilha no ninho,

E nos envolva em seus doces e eternos serões.

 

V

 

No mundo das palavras, teço este poema,

Onde realidade e sonho se entrelaçam num esquema.

O tema delicado que me envolvo, agora sigo,

Unindo palavras, com cuidado e abrigo.

 

Pornografia, um termo que causa impacto,

Exploração visual, prazer de fato,

Mas neste verso, quero ir além do óbvio,

Explorar as nuances do humano, o que é verdadeiro.

 

No encontro proibido, entre o amante e a amada,

Desvelam-se segredos, numa trama apaixonada,

São corpos e almas que se entregam num afago,

Onde o desejo explode, sem medo ou embargo.

 

Oh querida puta!

Tens um codinome que carrega estigmas,

Mas quem és tu?

Tens sonhos e dilemas,

Uma vida complexa, com histórias a contar,

Tua essência, tão humana, não se pode negar.

 

E no meio desse caos, surge o amor,

A força que une e transforma o viver em fulgor,

Ele transcende a carne, o momento passageiro,

Emerge no coração, trazendo consigo o verdadeiro.

 

Pois o amor não se restringe às convenções,

Ele se revela em múltiplas dimensões,

Pode estar nas lágrimas que um sorriso enxuga,

Nas pequenas gentilezas, na entrega que não se anula.

 

Então, quebrando tabus, neste poema singular,

Celebro a humanidade, no seu entrelaçar,

A pornografia, o amante, a puta e o amor,

Elementos complexos, que em cada um, tem seu valor.

 

Que possamos olhar além dos rótulos e julgamentos,

Compreender a diversidade dos sentimentos,

Erguer a voz, sem pudor, sem censura,

Abrir o coração, aceitar cada criatura.

 

Que a poesia nos guie, nessa jornada sem fim,

Explorando os abismos e as belezas que há em mim,

Quebrando barreiras, encontrando harmonia,

Nas palavras que nascem, cheias de poesia.




Wellington Lima Amorim 

Professor e escritor

A INCESSANTE BUSCA DE SENTIDO


É comum nos depararmos com pessoas que estão em busca de um propósito de vida. Observa-se neste sentido, que a própria mídia alimenta a ideia de que é preciso ser feliz o tempo todo e a qualquer custo. Isso não é diferente aqui no Estado de Santa Catarina, que possui altos índices de desenvolvimento social, político e econômico. Desde a sua criação e do seu desenvolvimento, os meios de comunicação têm influenciado na formação do imaginário coletivo, bem como suscita na formulação de hábitos de entretenimento e comunicação. No mundo contemporâneo, a mercadoria mais importante é a informação, e infelizmente estamos vendo nas redes sociais um avanço da venda da felicidade e por seguinte, da “cultura do cancelamento”. 

Logo, nas redes sociais é possível verificar inúmeras postagens com intuito de demostrar a existência de uma “vida perfeita”.  São inúmeros os discursos e até mesmo cursos que prometem nortear o alcance deste tão falado propósito de vida. As redes sociais tornaram-se palco principal para a demonstração de quem está em maior posição de satisfação, felicidade e de uma rotina perfeita. A grande questão é que este discurso tem levado jovens e adultos a níveis de ansiedade extremos e a utilização de medicações de maneira descontrolada, em alguns casos, a manifestarem diversas doenças de cunho emocional permanente, doenças estas que em significativa parcela levam o indivíduo a não gostar de si mesmos, da família e dos amigos. Sentimentos de insatisfação estão levando muitos indivíduos a pensarem que carregam consigo um grave problema.

A partir disso, as insatisfações humanas têm sido alvo de oportunistas que se aproveitam da dor e da saúde dos seres humanos para obtenção de lucros econômicos. A promessa de que “pílulas da felicidade” suprirão as insatisfações dos indivíduos tem se tornado cada vez mais comuns e presentes de forma indireta em propagandas e vitrines que incitam uma vida baseada naquilo que as “celebridades” apresentam em suas redes sociais e o que é difundindo em séries e filmes. Em suma, frustrar-se e não ter um propósito claramente definido virou sinônimo de fracasso. 

Nesse sentido, o questionamento é: Será que o dom da vida que nos foi concedido pelo Criador já não é um grande propósito a ser cumprido? Assim, é imprescindível consultar as escrituras bíblicas objetivando resgatar o verdadeiro motivo pelo qual fomos criados e destinados a este mundo e a esta missão denominada vida. Ainda, é preciso tornar comum, normalizar, que a vida é repleta de desafios e dificuldades e que nenhum ser humano por maior e melhor que sejam seus recursos e sua posição social é capaz de sentir-se feliz constantemente. Por fim, é preciso compreender também que o dom da vida e do livre arbítrio é o maior propósito que poderíamos ter recebido e cabe a nós darmos o devido sentido e valor a ele.


Cassiane Dagani, advogada e professora.    

Everaldo da Silva, cientista social e professor


                                                     



PERGUNTAS E RESPOSTAS AO CIBERPAJÉ


Nas respostas utilizo minhas percepções da realidade baseadas em minhas vivências existenciais, imanentes, transcendentes e mágicas. As respostas não pretendem ser verdades, são apenas percepções mutantes da minha realidade no momento em que as escrevo.


1.[Pergunta de Gustavo Oliveira] Ciberpajé, li um dos seus aforismos, mas questões me vieram. Se projetamos uma imagem mental ao mundo e se isso é nocivo por gerar dependência emocional a ela, como desarticular esse esquema já que interpretamos a vida através de imagens? Ou seja, o Imaginário não é um aspecto da mente? Como não projetar imagens então?"


Ciberpajé: A mente deve ser utilizada para planejar estrategicamente, mas nunca para criar devaneios e desenhar cenários para nosso futuro próximo ou distante - a não ser no caso de sermos artistas criando universos ficcionais. Um dos grandes males para a humanidade é a projeção mental incessante de futuros criados e/ou desejados a curto, médio e longo prazo. É uma doença que assola a espécie humana em todo o planeta e gera crises contínuas de ansiedade e frustração, que culminarão fatalmente em depressão e somatização. A ação de eliminar essas imagens é um exercício complexo, pois exige disciplina - algo muito raro na contemporaneidade. Quando as projeções vierem você deve rejeitá-las através do ato de desviar o foco, investir sua atenção absoluta naquilo que está fazendo, mesmo que seja apenas respirando.


A projeção dessas imagens mentais antecipatórias é um vício contumaz que gera a absoluta frustração das pessoas no mundo, infelicidade, tristeza, ressentimento, ódio e até psicopatias. O segredo é parar de alimentá-las gradativamente. Usar a mente para estar PRESENTE no agora e para planejamentos estratégicos focados e sem expectativas. Por exemplo, uma agenda das tarefas que devem ser realizadas é um planejamento estratégico e a mente é sensacional para isso, mas quando ao invés de apenas planejar o que deve ser feito ela começa a imaginar os resultados possíveis, você entrou no jogo das projeções.

 

Vamos detalhar um exemplo prático disso, digamos que amanhã você tem uma reunião no trabalho em que deve apresentar um relatório, a mente deve atuar organizando o relatório, estruturando o método adequado de apresentá-lo. Esse é o papel dela, feito isso você deve desligar-se da reunião, focar-se no seu agora. Mas o que comumente acontece é que você organiza o relatório e a apresentação e depois disso a mente continua nisso criando imbecilmente cenários possíveis de futuro e questionando as decisões tomadas, ela diz: - Será que o chefe e a equipe vão gostar? - Será que organizei bem o relatório? E começa a desenhar possíveis cenários futuros, em um deles o chefe te parabeniza e dá um tapinha no ombro, noutro ele te chama de incompetente, e as probabilidades seguem, e você torna-se ansioso, não dorme direito pelo lixo mental desnecessário. Nesse caso a mente desviou-se de seu papel e passou a ser a causa de nosso inferno. O trabalho de impedir o fluxo antecipatório mental é algo contínuo, um exercício para a vida toda, mas por experiência própria, à medida que você vai insistindo nesse controle através do foco absoluto no seu agora torna-se gradativamente mais fácil impedir a sujeira mental de gerar ansiedade e sofrimento.


2. [Pergunta de Carlos Hollanda] Ciberpajé, você diria que a "Síndrome Narcísica Contemporânea" vem sendo expressa com essa força toda desde quando?


Ciberpajé: Na década de 60, Andy Warhol, antena da raça, percebeu a ascensão emergente do narcisismo, ao destacar o direito que um dia todos teriam de "15 minutos de fama". Previu que a ideia de "fama a qualquer custo" se sobreporia à de sucesso pelo esforço (falácia meritocrática) que ainda regia o capitalismo do pós-guerra.


A percepção de Warhol ganhará um forte impulso quando outro momento marcante da ascensão do hipernarcisismo aconteceu no ano de 1996. Trata-se do fenômeno JenniCam. Quando a jovem Jennifer Kaye Ringley, estudante universitária estadunidense de 19 anos, decidiu instalar uma webcam ligada 24 horas em seu quarto no alojamento estudantil. Mesmo com a baixíssima qualidade da imagem e da banda da Internet, e com o fato de que Jenni muito raramente aparecia de roupas íntimas na transmissão, o interesse por seu streaming foi desde o início estupendo, tornando-a rapidamente milionária.


A sua ação cotidiana narcísica, sem nada que fosse diferente do banal e trivial nos primeiros anos da transmissão, atraiu a atenção de milhares de pessoas, tornando-se um marco da história da Internet. JenniCam influenciou o produtor de televisão holandês John de Mol Jr. a criar em 1999 o programa de maior sucesso na TV mundial nos últimos 20 anos, o fenômeno global Big Brother, que em 2021 já contava com 504 temporadas em 62 países. A base do programa é explorar o cotidiano insosso de pessoas medíocres e subcelebridades que são alçadas à condição de ídolos nacionais simplesmente por estarem no reality show. Em sua maioria esmagadora, os integrantes do programa têm sua vida trivial explorada dentro e fora da casa, glamourizando de forma hipernarcísica seu cotidiano repleto de vulgaridades, obcecado pela ostentação do corpo, de uma beleza padronizada e de inúmeras opiniões baseadas no senso comum.

 

O Big Brother tornou-se o programa de maior audiência global, mas aquilo que eu chamo de "Síndrome Narcísica Contemporânea" só tornar-se-á uma doença global a partir do crescimento massivo das chamadas redes sociais que começarão a ganhar fôlego a partir da segunda metade dos anos 2000 e vão tornar-se um dos mais rentáveis produtos das redes telemáticas com o fenômeno Facebook e logo depois o do Instagram. Essas redes, deram aos indivíduos o poder de criarem seus próprios conteúdos, em 99% dos casos compostos de banalidades e trivialidades como selfies de happy hour com bebida na mão, fotos de viagens, fazendo academia, festinhas de família e milhares de outras ações cotidianas, entupindo as timelines de bilhões de imagens e vídeos que denotam uma autoindulgência somente explicada pela aceleração de uma percepção absurdamente narcísica do mundo e da realidade ordinária, tudo gira em torno do próprio umbigo. Mas como se fosse um ser de grandes e absurdas qualidades, o doente narcísico só consegue ser feliz ao divulgar momentos selecionados das trivialidades de sua vida e receber a validação alheia.

 

A doença narcísica não é fruto de um autoamor exacerbado, ela nasce da extrema baixa autoestima que os narcísicos contemporâneos tentam esconder em seus triviais perfis ostentatórios. Na verdade tornaram-se fissurados adictos de uma validação contínua que é contabilizada o dia todo, a partir da quantidade de likes obtida por suas postagens incessantes. De certa maneira estamos todos - os que seguem nas redes sociais - contaminados em maior ou menor grau por essa síndrome abjeta. Eu ainda mantenho minhas redes sociais, mas não tenho celular, nunca tive um aparelho desses, por isso não carrego as redes comigo para nenhum lugar, elas só ocupam meu tempo quando estou em meu estúdio. No entanto, sempre que estou em ambiente social tenho observado as pessoas e as relações obtusas de vício narcísico que apresentam. A observação mais recente foi em um festival de rock que estive no final de semana passado. Depois da primeira banda tocar, sentei-me um pouco para acompanhar parte da segunda apresentação, observei ao meu lado duas jovens, na casa dos 20 anos, e pasmem, durante cerca de 40 MINUTOS, elas ficaram tirando selfies, eu observava-as disfarçadamente e não as vi uma única vez olhando para o palco. De tão absortas que estavam no processo de autorretratarem-se em infinitas poses - que podem ser resumidas em umas 3 - nem perceberam minhas olhadelas.

 

Calculando por baixo, devem ter tirado umas 200 selfies, e vejam bem, elas estavam juntas, mas não conversavam uma com a outra, só tiravam as selfies, nem mesmo uma foto das duas juntas eu as vi tirarem. Esse é só um simples exemplo do grau elevado dessa síndrome pérfida do narcisismo que invadiu as mentes e dominou praticamente todos das novas gerações X e Z, atingindo também inúmeros seres de outras gerações. É mais um fenômeno amplificado pelo destrutivo binarismo anticósmico que se não for interrompido acelerará o fim de nossa espécie.


3. [Pergunta de K.L.S.] Ciberpajé, como escapar da armadilha das expectativas que as pessoas que amamos depositam sobre nós?


Ciberpajé: Todos querem dizer como você deve agir, de seus pais ao seu cônjuge, do publicitário ao influencer digital. Assim sempre foi, desde o seu primeiro dia nesse planeta. Milhões de regras de conduta, direcionamentos, ideologias, dogmas, e você se submeteu a eles, por medo de ofendê-los, por pretenso amor, ou respeito, ou ainda pelo desejo de pertencer a algum grupo suprindo sua carência de afeto, mas destruindo a sua singularidade. E com isso você eclipsou tudo que te tornaria ímpar, único, e a sua vida interior tornou-se vazia, pouco criativa, insossa.

 

A consequência foi o desenvolvimento de vícios para suprirem a falta de sentido de sua existência, e a inexplicável ansiedade contumaz: álcool, comida, sexo, TV, redes sociais, games, filmes, séries, esportes, religião, múltiplas formas de preencher seu tempo livre e amenizar o caos interno com placebos apodrecidos e inócuos. Ainda é tempo de revolucionar-se, comece renegando tudo o que não é seu, investigue no seu coração quais os verdadeiros valores da existência para você, e depois jogue todo o resto no lixo, o que não é seu, não te pertence. Busque seu ser integralmente, renegue aquilo que lhe foi imposto e mergulhe em sua unicidade, volte a viver! O preço inicial parecerá alto, mas a longo prazo verá que a sua liberdade de ser é o único valor incomensurável do existir.


Edgar Franco é o Ciberpajé, um ser mutante como o Cosmos, em constante transmutação. Livre de dogmas e verdades, mago psiconauta pronto a experimentar a novidade, focado em viver o único momento que existe: o agora. Artista transmídia com premiações nas áreas de quadrinhos e arte e tecnologia. Criador do universo ficcional da Aurora Pós-Humana com o qual tem realizado obras em múltiplas mídias e suportes como quadrinhos, ilustração, poesia, aforismo, conto, música, vídeo, cinema, animação, instalação, web arte, gamearte e performance. É um dos pioneiros brasileiros do gênero poético-filosófico de quadrinhos, e mentor da banda performática Posthuman Tantra e do Projeto Musical Ciberpajé. Pesquisador criador do termo HQtrônicas, autor de 4 livros acadêmicos e dezenas de artigos, pós-doutor em arte, quadrinhos e performance pela UNESP, pós-doutor em arte e tecnociência pela UnB, doutor em artes pela USP, mestre em multimeios pela UNICAMP, arquiteto e urbanista pela UnB. Desde 2008 atua como professor permanente do Programa de Mestrado e Doutorado em Arte e Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia. Desde 2011 coordena o Grupo de Pesquisa CRIA_CIBER na FAV/UFG. Sua obra artística tem sido estudada por pesquisadores do Brasil e do exterior de múltiplas áreas, tendo gerado 5 livros dedicados a ela, inúmeros artigos científicos, um dossiê completo para a revista acadêmica Cadernos Zygmunt Bauman (UFMA), além de TCCs, dissertações e teses que analisam diversos aspectos de suas criações. Blog "A Arte do Ciberpajé Edgar Franco": http://ciberpaje.blogspot.com.br/ 

O QUE É ISTO, O ESPAÇO?

 

O pensamento é o externo, espacial e inumano articulado em termos humanos. Porém, o inumano não se articula diretamente no pensamento, assumindo dessa forma sua feição humana. O espaço é silencioso em demasia para verter-se sem intermédio. Deve haver, então, entre o inumano do espaço e o humano do pensamento, a intermediação do humano do espaço. Esse humano do espaço é o espaço do humano, onde primeiramente este pode aparecer como tal, ou seja, antropofania (só há antropotécnica após antropofania).


Quando o humano dá seu espaço, o espaço dá seu humano. A organização espacial em vias de tornar-se humana teve como um dos seus locais privilegiados de elaboração, Arquitetura. Neste sentido, é o espaço selvagem domesticado. Temos formas próprias, recentes, de inaugurar o espaço. Uma delas é, sem dúvida, o cinema. Essa Arte é capaz de materializar a abertura em uma distribuição definida e inaugurar, conforme este mesmo espaço, o humano que somente se fará lá, segundo a distribuição. A capacidade tecnológica da indústria cinematográfica eleva à enésima potência a possibilidade humana de formar espaços; o que, neste caso, é o mesmo que dizer: possibilidade humana de formar humanos.

Outra forma de Arte a se investigar é aquela que se veste e orna, a que me referirei aqui como simplesmente moda. Parece-me que a moda, como forma de inauguração do humano no seu devido espaço, é compreensível em chave teológica.  Moda é, em sentido mais exatamente designado como especulativo-teológico, a Arte mais próxima da presença Deus, a que delimita a distância insuperável entre humano e divino sinalizada pelo anjo da espada flamejante e a primeira de todas as Artes, inaugurando o drama humano na história. Simboliza a liberdade humana, sua insubordinação e seu conhecimento. 

Quando Adão decai, tornando-se unicamente humano, esconde sua nudez. Talvez isso não a faça a primeira a ser algo, mas sem dúvida é a primeira a surgir como resposta natural/profana à condição humana. Tal caráter corrompido e diabólico manifesta-se mais evidentemente contemporaneamente, em que Arte de se vestir não apenas indica corrupção, a vergonha de sua impureza, mas também a autoprodução, cada vez mais radical, da aparência que somos. Vestindo-nos, emancipamo-nos da posição de criatura divina e almejamos, apenas almejamos, a condição de criador, em que seríamos capazes, caso pudéssemos, criar quem somos.


    Pedro Morais Vasques, 

mestrando e escritor

PORNOPOLÍTICA: o gozo comprado na esquina.

 

Todo período eleitoral é um período de promiscuidade, esquerdistas e direitistas se tornam o centro de nossas atenções, com isso, todos buscam levar algum tipo de vantagem. Na verdade, simpatizantes de direita e esquerda deveriam ser conceitos “suspensos” no vocabulário político. Talvez o mais adequado fosse ser classificado como “ambidestro”, pois, o que se observa na sua inteireza é uma adequação intencional das necessidades que os convém, ou seja, não importa se somos ou não de direita ou esquerda, se os nossos ideais se convergem ou divergem entre si, mas sim o que determinados grupos políticos ou sociais venham a nos oferecer. Se estivermos vivendo “O amor nos tempos do capitalismo”, como nos afirma Eva Llouz (2011), não seria estranho afirmar que estamos convivendo agora na era da promiscuidade da política do capital? O que realmente importa é o que eu tenho a ganhar, o que me pode ser favorecido, seja pela compra direta de um voto ou por algum apadrinhamento político. Por sua vez, o discurso e a prática pornográfica, sensualizado, não se encontra apenas nas cenas do cinema ou plataformas para maiores de 18 anos, como nos Onlyfans; Privacy; Loyal fans; Cam4.com; Livejasmin.com; Adultfriendfinder.com, entre outros, mas nas entrelinhas do discurso político e de sua face. “Somos imbrochavéis”.

Cabe perguntar: o que nos seduz em determinados personagens e figuras políticas que nos despertam um gozo, metafísico e fetichizado? A figura política que se projeta em “orçamentos secretos”; as igrejas evangélicas que se favorecem dos benefícios do governo; assim como os grupos carismáticos católicos que se “apaixonam à primeira vista”, nada mais projetam que os novos celeiros do gozo, do sexo viril que se espalham pela cama pitagórica e rosacruciana e que se encontram nos motéis: “queremos o eterno retorno do mesmo”. Aliás, como nos diria Bazzo (2009): “as camas circulares é a volta irremediável dos amantes ao mesmo lugar, o eterno retorno à mediocridade e ao embuste do próprio ato sexual”. A miséria sexual e a politização implica necessariamente o interesse individual libidinal em longa escala: “ricos e pobres, viventes e sobreviventes, uns destinados às festas magníficas do corpo, outros reduzidos à porção suficiente”.  Por fim, nos vemos nas bonanças de Salomão, mas ao mesmo tempo, somos os famintos que comem das migalhas de seus senhores: “mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores”. 

   

                             Claudinei Reis Pereira,

filósofo e professor

 


A RELIGIOSIDADE REDIVIVA NO OCASO DA MODERNIDADE

 

Uma das conquistas fundamentais do desenvolvimento da Modernidade consistiu na paulatina laicização da coisa pública e suas instituições, não obstante a permanência da dimensão teológico-religiosa na vida social. A experiência da fé, ainda que influenciasse o modo de ser daquele que é adepto de uma dada crença, era instada a permanecer reservada ao plano íntimo. Essa harmonia entre as esferas é uma das bases para o fortalecimento da constitucionalidade política, pois o cidadão é avaliado por sua probidade e compromisso com o desempenho ótimo das suas atividades cotidianas. Mais ainda, preserva-se a dignidade daqueles que não comungam nenhuma religião, pois fazer parte de um credo não significa de maneira automática o crivo de boa pessoa (o alardeado “cidadão de bem”). Com efeito, muitos hipócritas mascaram os seus vícios morais sob as vestes de uma religiosidade oca e fingida que é apenas uma caricatura do que consideramos virtude. Sepulcros caiados que guardam em seus interiores restos nauseabundos.

         O processo de superação da Modernidade (não nos importa aqui o rico debate é líquida ou pós), trouxe em seu bojo traços de reacionarismo ideológico-cultural, um elã virulento de retorno arcaizante a um ideal de vida social marcada pela influência deletéria de uma compreensão moral da existência regida por uma experimentação de religiosidade caracterizada pela erupção de traços obscurantistas, violentos, despóticos, intolerantes, qualidades negativas que sintetizam a negação da genuína práxis religiosa que é representada pela vivência da beatitude, pelo amor incondicional, pelo acolhimento do outro, pelo ensejo dialogante, pela solidariedade interpessoal. Em todas as eras encontraremos a oposição, no âmbito de uma mesma religião, de perspectivas que vivenciam a fé de maneira agregadora ou de maneira abrasiva ou corrosiva, conforme as respectivas inclinações ideológicas dos seus membros.

Em sociedades de baixa intensidade democrática, a religião usualmente se torna um aparato normativo das classes dominantes para exercer o seu jugo sobre o tecido social, impondo uma agenda de conformidade moral acerca da miséria da vida ordinária. Mesmo que uma determinada instituição religiosa não esteja oficialmente atrelada ao Estado, sua presença massiva no seio social pode convenientemente ser instrumentalizada pela governança para adestrar camadas populares ao padrão comportamental de submissão incondicional ao establishment. Quando a canalização da fé religiosa é direcionada de modo vil para a plataforma eleitoral, os males do mundo se multiplicam. As cartas constitucionais usualmente apresentam conteúdo que progressivamente se aprimora a cada redação.  A Constituição Federal do Brasil promulgada em 1988 garante a laicidade do Estado e a garantia plena de liberdade religiosa, de modo a contemplar de maneira irrestrita todos os credos. No entanto, sendo a sociedade brasileira marcadamente herdeira do modo de produção escravista e com racismo estrutural arraigado em nossas organizações, algumas religiões são mais respeitadas do que outras, tal como ocorre com a religião cristã.

 

Renato Nunes Bittencourt, 

filósofo e professor

 

        

ESCRITA ERRANTE OU ERRÁTICA?

 

Sempre que me debruço para escrever penso:

- Que tipo de expressão e estilo a minha escrita precisa ter? Após um breve reflexão chego sempre à mesma conclusão:

- Gostaria de ter uma escrita leve, sinuosa e poética, dotada de um estilo clássico e trágico, como se dança um tango! Ou ainda, uma escrita que lembrasse o corpo sinuoso de uma mulher nua que se desvela lentamente na penumbra de um quarto, quando é invadido pelos primeiros sinais dos raios de sol pela manhã depois de uma longa noite de chuva.

Oras, este é o erotismo que está presente na escrita de Platão quando o filósofo escreveu o Banquete ou na escrita dos latinos greco-romanos. É neste momento que lembro que não tenho esta capacidade. Deboche é um dos meus nomes! A ironia é a virtude que não possuo. Afinal, muitos são os nomes que tenho, mas o maior deles é o deboche temperado e apimentado com o sarcasmo suburbano das classes mais baixas do Rj. Não tenho a classe e polidez que a ironia aristocrática e socrática é capaz de nos proporcionar.

Mas vamos ao prato principal: a comemoração do dia dos professores!

Não podemos esquecer que precisamos rasgar elogios aos maiores mestres que nos últimos trinta anos contribuíram significativamente para a Educação: o Google e aos professores festivos/pós-modernos, em especial ao Reitor da Universidade onde trabalha o Prof. Desidério Murcho que afirmou: Há algum tempo ouvi o Reitor da minha Universidade, um físico por formação, expressar o seu desconforto pela sugestão de o lema da Faculdade das Artes e Ciências incluir a expressão “compromisso com a verdade”.

O Google é realmente o maior professor que o mundo já conheceu. Quem precisa de um professor que presencialmente tenta ensinar a escrever, pensar logicamente, estimular a leitura dos clássicos, que de forma lenta, parcimoniosa, cuidadosa ou não, sempre exigindo o cuidado necessário para sermos capazes de desenvolver a reflexão, se o Google nos responde quase que em um quarto de segundo qualquer pergunta que eu faço quando eu invoco seu nome? Isto, sempre diante do rosário, celular, este totem sagrado que todos nós adotamos nos últimos tempos? E o que dizer do comando mágico mais bem difundido e apreendido nos últimos tempos pelo corpo discente? CTRL C + CTRL V. Esta é a fórmula alquímica que transforma qualquer reflexão em um texto autoral em poucos minutos. Plágio? Claro que não! Apenas apropriação indevida das idéias do próximo sem citar os créditos do autor. Uma outra grande evolução na Educação aconteceu quando abandonamos o conceito de Verdade. Ela era um incômodo, um estorvo. E se nos últimos 2500 anos não conseguimos encontrá-la o melhor a ser feito foi abandoná-la e viver uma era da pós-verdade, produtoras de verdades. Desta forma cada cidadão pode ter uma lei da gravidade e matemática somente sua. Se alguém decidir que 2 + 2 = 5 é tudo uma questão de perspectiva. Se alguém afirmar que a lei da gravidade tem outro valor e não quiser assumir universalmente o valor de 9,8 m/s², é uma outra perspectiva que precisa ser respeitada. Afinal, não podemos ser preconceituosos, precisamos patrocinar a diversidade, inclusive das leis da físicas, a lei da gravidade e a matemática não podem ser universais, precisam ser regionais, diversas e dependendo da situação, contexto, gênero ou raça ela pode assumir valores diferentes. Que evolução! Meus parabéns aos verdadeiros professores que realmente fizeram a diferença nos últimos trinta anos. O resto é resto! Somente servem para serem peças de museu!


    Wellington Lima Amorim, 

Animal em extinção!

 


A GLOBALIZAÇÃO E NÓS

 

Nesta reflexão apresentamos o conceito de globalização e sua relação com o ser humano. Afinal, muito já se foi discutido sobre esse tema e o impacto no Brasil a nível local e regional. Entretanto, temos esquecido o fator humano, que é intrínseco ao processo de globalização, pois não é possível definirmos como um processo ou um fenômeno, se neste processo esquecemos as pessoas, que são fundamentais para que se possa realmente “tornar” o mundo mais humanizado e onde os princípios da liberdade não sejam reprimidos. Algo que avançou não somente em nível mundial, mas também no Brasil e aqui em nosso estado. O sucesso esperado da globalização não pode ser apenas financeiro, mas também deve incluir valores não-materiais, fundamentais ao ser humano, estes resguardados pela Constituição Federal em seu artigo 5º, com destaque, a moralidade, o bem-estar, o emprego, melhores condições sociais, educação, democracia, liberdade, entre outros direitos constitucionais. Filósofos e, particularmente, Sociólogos comumente relacionam seus estudos no sentido de que a globalização tem, geralmente, globalizado a pobreza e não os pressupostos benefícios que ela deveria trazer à humanidade. Como todas as mudanças que cercam o ser humano, sempre existem os prós e os contras. A sociedade é composta por organizações e por indivíduos e cada um com seus objetivos. As empresas buscando lucratividade e os indivíduos a realização profissional e pessoal. Sendo assim, algo precisa ser feito neste sentido. Políticos, economistas, sociólogos, filósofos, intelectuais precisam encontrar uma forma de tornar o mundo realmente “menor” em termos de conexão, mas também torná-lo mais digno, mais justo, onde cada indivíduo possa vislumbrar um futuro melhor para si e para seus descendentes. Dentro da natureza existe um ciclo de sobrevivência; o ser humano se coloca fora dele, criando uma outra natureza, ficando numa posição parasitária, “idiota útil”, permanecendo na maioria do tempo anestesiado pela mídia tradicional e pelas redes sociais que reforçam uma visão hedonista e desumanizante. Um dos maiores problemas está na própria condição do ser humano dentro de uma sociedade que vive pensando somente no consumo, acabando por perder o referencial do certo e errado e, principalmente, o entendimento da graça e gratuidade da vida! Não nos falta otimismo. Nossa preocupação é o que acontecerá se a sociedade se não responder rapidamente aos riscos contemporâneos: o que será das gerações futuras? Nesse sentido, o estado de Santa Catarina se destaca em muito pelo seu desenvolvimento econômico, político e social. Entretanto, não podemos perder de vista que estamos inseridos num fundo que tem ficado mais “cruel e frio”. Como consequência, estamos o transformando numa avassaladora disseminação de mentiras e narrativas que a mídia tradicional, alternativa, redes sociais e os políticos nos oferecem, mas que no fundo contribuiu para que o ser humano se torne mais alienado e indiferente ao próximo e a sociedade em que está inserido.


           Cassiane Dagani, advogada e professora.

Everaldo da Silva, sociólogo e professor.


   O QUE FAZ A LITERATURA PARANAENSE SER PARANAENSE?

O que faz com que uma obra literária seja considerada regionalista? O fato de o autor ter nascido ou vivido em determinada região basta para que sua obra seja considerada como regional ou é necessário que em sua produção artística existam traços, passagens, menções ou certas características que remetam o leitor a uma determinada região, atribuindo-se assim ao livro um adjetivo que consequentemente conduza a algum local específico? A questão merece reflexão: teríamos um regionalismo literário ou autores de determinada região que escrevem? Exemplifico aqui com alguns escritores da literatura paranaense: Paulo Leminski, talvez o maior literato paranaense ao considerar o alcance de sua obra, nasceu na capital paranaense e viveu grande parte de sua vida na mesma cidade, produzindo no Paraná vários de seus escritos; Manoel Carlos Karam, por sua vez, nasceu em Rio do Sul, município de Santa Catarina, mas viveu na cidade paranaense de Curitiba desde seus quase vinte anos, de modo que foi no Paraná onde produziu sua ampla literatura; Luci Collin reside em Curitiba desde quando nasceu, produzindo assim toda a sua escrita em solo paranaense; Assionara Souza foi radicada na capital do Paraná, onde escreveu e publicou os seus livros, tendo nascido, porém, em Caicó, cidade localizada no Rio Grande do Norte. O que esses autores – considerados paranaenses – possuem em comum? Poderia se fazer uma abordagem sobre as características que se fazem presentes nas diversas obras produzidas por esses e tantos outros escritores do Paraná, buscando assim identificar elementos em comum que repercutiriam na identificação da uma literatura propriamente paranaense a partir da própria escrita (forma, estilo, linguagem ou qualquer outro fator possível nesse sentido). É uma perspectiva possível. Porém, isso representaria apenas uma parte – por mais que significativa - do todo, contemplando as principais obras, ou os mais renomados autores ou ainda a maior parte da produção literária, sempre contando com algum tipo de recorte. É em razão disso que aqui se elege outra via para definir a literatura paranaense enquanto tal. Recordo aqui da leitura sobre a literatura brasileira feita por Afrânio Coutinho, onde o autor critica o estabelecimento de uma periodização dos textos literários no Brasil, pelo que a conceituação de uma literatura brasileira não deveria se pautar em questões de ordem política econômica ou cultural, mas sim com base em critérios de ordem estética e de estilo. Assim, não faria sentido dividir a literatura brasileira em fases que permitem o estabelecimento da noção de uma literatura colonial, pois esse é um conceito político, de modo que surge aí a necessidade de uma revisão conceitual para que se tenha um marco mais adequado daquilo que pode ser considerado propriamente como literatura nacional. Assim, o autor defende que a literatura é brasileira desde quando surge em solo nacional, assim como foi (e é) brasileiro todo aquele que se estabeleceu e se implantou no Brasil, mesmo que nascido fora. Trago o pensamento de Afrânio Coutinho para a questão aqui refletida, regionalizando-o: é paranaense toda a literatura que é produzida no Paraná ou por escritor paranaense. O Paraná é um estado acolhedor que abraça a todos que nele estão e os que ali querem ficar, recepção carinhosa essa que inclui os escritores. Qualquer seja o gênero literário, o estilo de escrita, o tipo de trama ou de qualquer outra nuance que são próprias da escrita que se individualiza de acordo com o escritor, se foi criada em solo paranaense ou por quem ali nasceu, estaremos diante de algo que pode e deve ser considerado como literatura paranaense.

                    Paulo Silas Filho, 

escritor, advogado e professor!